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domingo, 17 de janeiro de 2016

Tempo da zaragata

A palavra zaragata aparece como um sinônimo da palavra revolta e me surgiu mais suave e diferente para comentar alguns aspectos da atual vida cotidiana. Brigas, desordem, é a definição de zaragata, escolho a desordem como um atributo da falta de ordem em algum lugar. Se você pensou que este lugar é um país e se chama Brasil acertou, porém quero discutir não a desordem que se instalou, mas os princípios que motivam, distorcem ou orientam o comportamento humano, os preceitos valorativos e morais que dirigem o ser humano.
O que aconteceu ou está acontecendo com a sociedade quanto ao bom costume, de justiça social, o bem e o mal, a consciência profissional, política, sexual, matrimonial entre tantos outros? Pode-se dizer que os costumes variam de um país a outro, dependem da cultura de determinadas civilizações, assim como o que é aceito ou não, e também podemos pensar ser um processo natural que os costumes e valores se transformem com o passar do tempo.
Você pode pensar, costumes e valores dependem de cada pessoa, de cada local e sociedade, mas, o que dizer quando a desordem se instalou? Costumes e valores são aprendidos e existe um parâmetro no qual foram construídos. E agora qual seria esse referencial? Pode ser; salve-se quem puder, deixa de ser tonto se você não fizer o outro vai fazer, ninguém vai notar, sempre com a conotação de que se está perdendo algo e que o outro levará vantagem. Isto significaria preceitos da ordem capitalista?
Não sou política para discutir sobre política e não pretendo conduzir a reflexão para esse ponto, mas me incomodo e sinto na alma os reflexos que a atual desordem do país pode provocar nas pessoas, no que se refere à desilusão.  Digo isto porque a capacidade para a fantasia e imaginação, conduzem a esperança e habilidades de criar situações novas, do desejo de uma civilização ideal. Minhas inquietações dirigem-se também para a questão dos papéis ocupacionais. Se os papéis ocupacionais são desempenhos e exercícios que as pessoas adquirem ao longo da vida, segundo as fases e respectivos anseios, e sofrem influência do ambiente e das expectativas sociais, que tipo de papéis estaria surgindo atualmente?
Segundo Kielhofner, os papéis ocupacionais capacitam os indivíduos a estruturar sua participação no mundo do trabalho e em sociedade e ajudam a organizar os comportamentos produtivos, fornecendo uma identidade pessoal, conferindo expectativas sociais, organizando o uso do tempo, e inserindo a pessoa na estrutura social. Desta forma, os papeis ocupacionais organizam o comportamento da pessoa e vão se acumulando com o passar do tempo, construindo a identidade social e a carreira ocupacional. Diante do atual cenário brasileiro que tipo de identidade é valorizada? Que parâmetros servem de modelo para a atual desordem manifesta? Se dignidade é a qualidade do que é nobre e de honra, qual é o tipo de compostura que reina em nosso país? Talvez os papéis ocupacionais que estamos construindo, diante de uma terra de ninguém, onde todos querem usufruir em benefício próprio, sem a mínima consciência do dano e da coletividade seja: papéis de fachada.