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domingo, 25 de outubro de 2015

Tempo da doença /dor.

Logo pela manhã me deparo quase sempre com um corredor cheio de pessoas esperando por atendimento médico. Um dos questionamentos que me faço é: será que todas essas pessoas realmente estão doentes? Outras vezes percebo que as mesmas pessoas voltam frequentemente, e aí penso ou não está resolvendo ou o problema é outro. Essas pessoas saem de sua casa, gastam um tempo para chegar a seu destino, ficam horas esperando o atendimento e aí me faço outra pergunta: será que esse tempo gasto, foi satisfatório? Encontraram o que buscavam?
Raras vezes essas pessoas são encaminhadas ao serviço de saúde mental ou procuram o atendimento espontaneamente, a sala desta especialidade, fica neste mesmo corredor, com uma placa, na porta, ilustrando; saúde mental, de forma colorida, harmoniosa e realço está escrito “saúde” e não doença. Quando as pessoas são encaminhadas ou chegam por vontade própria, observo através de prontuários a descrição de queixa físicas, dores no corpo em geral, e a  conduta que se repete, reproduzidas por várias vezes e sem sucesso, ou seja sem remissão do incômodo que a trouxe para o atendimento de saúde. 
Parece não existir, ou as pessoas tem grande dificuldade, para fazer outros questionamentos, como por exemplo: essa queixa ou dor que me acomete, como surgiu? Como anda minha vida? Estou satisfeito com meu trabalho, minha família, minhas relações, minhas atividades  cotidianas? Tenho feito coisas que me dão prazer? Interesso-me por algo?  Que doença é essa que tenho, ou será que estou doente?  Do que? 
Não pretendo generalizar, mesmo porque cada pessoa é única, mas durante esses anos de prática, percebi que esse tipo de questionamento é pouco frequente e as pessoas buscam fórmulas mágicas para os problemas da vida, sejam eles quais forem.
Quem tiver a oportunidade eu recomendo a leitura do livro de Rüdger Dahlke: A doença como linguagem da alma. O livro aponta para a importância dos sintomas, não para combatê-los, mas sim aliar-se a eles e procurar compreendê-los, através do hábito e a cegueira de si mesmo a pessoa se refugia nos sintomas e o intensifica, tornando-se cada vez mais doente.   
Esclareço que este é um espaço que coloco minhas opiniões, minhas vivências e experiências, enquanto profissional e como entendo a vida, isto não significa que todo profissional de Terapia Ocupacional pensa da mesma forma. A cada encontro que estabeleço com a pessoa sob meus cuidados, procuro juntamente com ela entender suas atividades diárias, suas ações na família, no trabalho em ambientes sociais. A linguagem das ações representa um significado, temos que observar nossos atos, olhar para si mesmo, encontrar necessidades e o que realmente está dificultando para atingir os objetivos de vida.   
Finalizando, não faça do seu tempo uma doença, mas entenda seus hábitos e atividades diárias como a expressão do seu ser, compreendendo que podem ser modificadas e transformadas em algo mais significativo e prazeroso. A pior doença que pode existir é a cegueira de si mesmo.

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