Logo pela manhã me
deparo quase sempre com um corredor cheio de pessoas esperando por atendimento
médico. Um dos questionamentos que me faço é: será que todas essas pessoas
realmente estão doentes? Outras vezes percebo que as mesmas pessoas voltam
frequentemente, e aí penso ou não está resolvendo ou o problema é outro. Essas
pessoas saem de sua casa, gastam um tempo para chegar a seu destino, ficam
horas esperando o atendimento e aí me faço outra pergunta: será que esse tempo
gasto, foi satisfatório? Encontraram o que buscavam?
Raras vezes essas
pessoas são encaminhadas ao serviço de saúde mental ou procuram o atendimento
espontaneamente, a sala desta especialidade, fica neste mesmo corredor, com uma
placa, na porta, ilustrando; saúde mental, de forma colorida, harmoniosa e
realço está escrito “saúde” e não doença. Quando as pessoas são encaminhadas ou
chegam por vontade própria, observo através de prontuários a descrição de
queixa físicas, dores no corpo em geral, e a conduta que se repete, reproduzidas por várias
vezes e sem sucesso, ou seja sem remissão do incômodo que a trouxe para o
atendimento de saúde.
Parece não existir, ou
as pessoas tem grande dificuldade, para fazer outros questionamentos, como por
exemplo: essa queixa ou dor que me acomete, como surgiu? Como anda minha vida?
Estou satisfeito com meu trabalho, minha família, minhas relações, minhas
atividades cotidianas? Tenho feito
coisas que me dão prazer? Interesso-me por algo? Que doença é essa que tenho, ou será que
estou doente? Do que?
Não pretendo
generalizar, mesmo porque cada pessoa é única, mas durante esses anos de
prática, percebi que esse tipo de questionamento é pouco frequente e as pessoas
buscam fórmulas mágicas para os problemas da vida, sejam eles quais forem.
Quem tiver a
oportunidade eu recomendo a leitura do livro de Rüdger Dahlke: A doença como
linguagem da alma. O livro aponta para a importância dos sintomas, não para
combatê-los, mas sim aliar-se a eles e procurar compreendê-los, através do
hábito e a cegueira de si mesmo a pessoa se refugia nos sintomas e o
intensifica, tornando-se cada vez mais doente.
Esclareço que este é um
espaço que coloco minhas opiniões, minhas vivências e experiências, enquanto
profissional e como entendo a vida, isto não significa que todo profissional de
Terapia Ocupacional pensa da mesma forma. A cada encontro que estabeleço com a
pessoa sob meus cuidados, procuro juntamente com ela entender suas atividades
diárias, suas ações na família, no trabalho em ambientes sociais. A linguagem
das ações representa um significado, temos que observar nossos atos, olhar para
si mesmo, encontrar necessidades e o que realmente está dificultando para
atingir os objetivos de vida.
Finalizando, não faça do
seu tempo uma doença, mas entenda seus hábitos e atividades diárias como a
expressão do seu ser, compreendendo que podem ser modificadas e transformadas
em algo mais significativo e prazeroso. A pior doença que pode
existir é a cegueira de si mesmo.
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