Correntinha,
laçada, ponto alto, ponto baixo e vou construindo meu tapete, de repente
correntinha e perco o ponto, a sequência, volto, tem que desmanchar. Assim é o
crochê, vários pensamentos aparecem nesse processo, a gente se distrai, às
vezes erro e tenho que retomar, voltar a atenção no ponto, na sequência. O
crochê parece algo simples, mas está cheio de requisitos importantes para a
execução como: coordenação motora, concentração, matemática, criatividade e uma
habilidade fundamental a paciência. A paciência é algo fundamental para tudo
que vamos realizar e se faz presente também nas relações humanas, como por
exemplo, ter tolerância com os erros alheios e os seus. Cada pessoa tem um
porque para começar uma atividade de crochê, uma história que pode ter se
iniciado na adolescência na idade adulta, na terceira idade. Como sempre
enfatizo, a atividade dependerá da singularidade de cada pessoa, o que é bom
para mim pode não ser para você, no entanto, observo algumas resistências das
pessoas para experimentar certas atividades, o crochê é uma delas. Percebo
preconceitos, ideias distorcidas, até culturais, relacionando com atividades
antigas, feitas por avós. Realmente a história do crochê é antiga,
historiadores fundamentam teorias que ele surgiu na Arábia e se difundiu pela
Espanha e Europa através das rotas comerciais do mediterrâneo. Antigamente o
artesanato aproximava principalmente as mulheres, representando o princípio e a
formação de “boas moças, prendadas”.
O
ato de fazer crochê permite exercitar e vivenciar a identificação de funções e
papéis ocupacionais auxilia na nossa organização interna e externa e contribui para
melhores adaptações ao ambiente em que vivemos.
As
atividades estruturadas como nós terapeutas ocupacionais denominamos, organizam
pensamentos e proporcionam algo parecido com a meditação, porque estamos de
fato imersos no processo da atividade no aqui e agora. Em uma escola de artes ou artesanato as
pessoas aprendem a técnica, conhecem outras pessoas, interagem, no processo de
atendimento da terapia ocupacional, a sua relação é com o terapeuta, que está
preocupado e ou sensibilizado com suas questões particulares. No processo do
atendimento da terapia ocupacional, você
também pode aprender a técnica, mas esta não é a proposta única e primordial. A
leitura da ação é outra técnica utilizada pelos terapeutas ocupacionais, realizamos várias
ações, somos seres pragmáticos, entretanto, nem
sempre se tem clareza, na verdade muitos dos nossos atos são obscuros,
estão ocultos, mas temos a necessidade e o impulso em fazê-los.
Outra
característica curiosa e que faz a diferença na realização de atividades com a
presença de um terapeuta, é a oportunidade que as atividades oferecem de em determinado
momento deixar a mente distraída. A mente distraída e sem o recurso da
racionalização que na maioria das vezes utilizamos, permite o acesso aos nossos
mais profundos sentimentos e emoções, é como se abrisse uma janela, uma
passagem. Ao vivenciar a emoção e o sentimento no concreto, sem o mecanismo da
racionalização é possível que a experiência vivenciada ofereça a condição para
uma mudança, de comportamento de atitude diante de algo que parece sem solução.
Normalmente temos a tendência de submeter os relacionamentos, as pessoas,
coisas e ideias apenas aos princípios da razão e não da experiência propriamente
dita. A utilização de altivez, falar com jactância é a conduta que
apresentamos, quando não conseguimos vivenciar uma experiência ou porque ela
não é permitida socialmente e ou internamente ou ambas, ou mesmo quando algo ou
alguém rejeitou.
A
arte de fazer crochê permite que você se mantenha parado por um tempo, mesmo
com um turbilhão de pensamentos, o ato de “crochetar” pode ajudar a organiza-los, tornar menos intenso e até
diminuir a aflição, o agitamento. Portanto nunca é tarde para experimentar ou
iniciar uma atividade, cabe a você se permitir conhecer novas possibilidades,
quem sabe esse próprio ato te revele outros horizontes.
Melhor
errar um ponto do crochê e começar tudo de novo, do que viver praticando erros
no curso da existência.
Postem
comentários de como é fazer crochê, como iniciou e porque, só esta reflexão com
certeza te levará a lugares que você nunca visitou.