Tempo
do vai e volta
Sempre
dizemos não viva do passado ele já se foi, mas será que você nunca retomou algo,
um projeto, uma situação, uma tarefa do seu passado? Às vezes acontecimentos do
passado são entendidos como lições de vida. Passado é considerado um tempo que
se foi, passou, mas que precisamos dele para nos contextualizar no presente,
constituir nossa história. Também são comuns afirmativas quanto a repetições do
passado, do tipo: não vá cometer o mesmo erro. E aí me veio a seguinte questão:
seria um erro retomar ou rever algo do passado? Se algo ou alguma situação
retorna seria uma repetição, ou esta lembrança ou situação de vida, retorna a
você para um novo aprendizado ou uma nova oportunidade de fazer bem feito e
melhor?
Em
meio a todas essas questões, recentemente me defrontei com uma situação prática
e cotidiana que descreverei a seguir.
Há
alguns anos atrás caminhando por onde morava encontrei jogada uma mesa que
estava em bom estado, considerei bom estado o fato de ter sua estrutura
preservada, os pés, faltando apenas à parte superior, o tampo. Naquele momento
não tive dúvida trouxe pra casa e reformei ficou ótima. Recentemente outra mesa
apareceu por aqui meio estragada e por coincidência, também na parte superior.
Enquanto trabalhava nessa reforma alguns pensamentos foram chegando. Pensei:
por que novamente me aparece uma mesa com características semelhantes? Então
corri pra cá, comecei a escrever, refletir e apresentar alguns questionamentos que
se desenrolaram. Outros pensamentos foram aparecendo na medida em que realizava
a reforma. Algumas coisas vêm e vão, e
se apareceram novamente, seria uma repetição característica dos neuróticos
descritos por Freud? Ou seria algo do carma que pregam algumas religiões? O
tempo produz modificações em nós, não apenas físicas, eu diria que na maioria
das vezes, destruidora, mas também por outro lado reconfortantes, amadurecemos,
fazemos conexões que jamais faríamos em tempos passados.
Dessa
situação da mesa não consegui um resoluto final, mas compreendi que hoje sou
diferente de tempos atrás e, portanto o tampo será diferente e mesmo os objetos
que quero colocar á mesa. Assim, entendo que não existe repetição, embora o
objeto seja o mesmo. Naquele momento contei com a ajuda do meu pai, ele é muito
bom pra qualquer tipo de reforma, conhece, tem experiência, mas tem dificuldade
para pensar diferente do que sempre pensou. Perceber que materiais se modificam
há avanços e modernizações. Eu diria também que rigidez, é uma condição
devastadora quando se pretende transformar alguma coisa. Hoje ainda não
consegui terminar a mesa, parece que me falta entusiasmo, ou mesmo não sei
ainda o que colocar de tampo.
Neste
simples fazer me reportei ao passado, penso agora que tipo de tampo posso
utilizar e ainda faço projeções futuras do que colocar sobre ela e em que lugar
esta mesa poderá se acomodar.
Neste
processo de fazer, que produz reflexões e mudanças, descobrimos coisas novas
sobre nós mesmos, um novo autoconhecimento que se ajustam as perdas do que
éramos, fazemos uma nova adaptação e acomodação, um novo conceito de nós
mesmos.
Este
é um dos mecanismos utilizados para o acompanhamento da terapia ocupacional com
foco na saúde mental. O terapeuta ocupacional ajuda as pessoas que por um
processo de doença e ou situação de vida perderam suas capacidades funcionais
ou mesmo o conceito de si próprio.
A
saúde tanto física quanto mental é um atributo de todos que convivem na
sociedade, seja na família no trabalho e os terapeutas ocupacionais que atuam
com intervenção para a saúde mental, independentemente do diagnóstico, devem
promover sensação de bem-estar, elaborar metas para atingir objetivos, pensar e
agir dentro da realidade atual e contexto social das pessoas.
Finalizando
e concluindo o passado nos ajuda a construir um novo presente, mas os não
acertos no passado, não nos dão garantia de novos erros atuais. O importante é a
transformação interna, um novo olhar diante de um mesmo objeto e situação de
vida, entendendo que são parecidos, mas nunca exatamente iguais.