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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Tempo do vai e volta


Tempo do vai e volta

Sempre dizemos não viva do passado ele já se foi, mas será que você nunca retomou algo, um projeto, uma situação, uma tarefa do seu passado? Às vezes acontecimentos do passado são entendidos como lições de vida. Passado é considerado um tempo que se foi, passou, mas que precisamos dele para nos contextualizar no presente, constituir nossa história. Também são comuns afirmativas quanto a repetições do passado, do tipo: não vá cometer o mesmo erro. E aí me veio a seguinte questão: seria um erro retomar ou rever algo do passado? Se algo ou alguma situação retorna seria uma repetição, ou esta lembrança ou situação de vida, retorna a você para um novo aprendizado ou uma nova oportunidade de fazer bem feito e melhor? 
Em meio a todas essas questões, recentemente me defrontei com uma situação prática e cotidiana que descreverei a seguir.
Há alguns anos atrás caminhando por onde morava encontrei jogada uma mesa que estava em bom estado, considerei bom estado o fato de ter sua estrutura preservada, os pés, faltando apenas à parte superior, o tampo. Naquele momento não tive dúvida trouxe pra casa e reformei ficou ótima. Recentemente outra mesa apareceu por aqui meio estragada e por coincidência, também na parte superior. Enquanto trabalhava nessa reforma alguns pensamentos foram chegando. Pensei: por que novamente me aparece uma mesa com características semelhantes? Então corri pra cá, comecei a escrever, refletir e apresentar alguns questionamentos que se desenrolaram. Outros pensamentos foram aparecendo na medida em que realizava a reforma.  Algumas coisas vêm e vão, e se apareceram novamente, seria uma repetição característica dos neuróticos descritos por Freud? Ou seria algo do carma que pregam algumas religiões? O tempo produz modificações em nós, não apenas físicas, eu diria que na maioria das vezes, destruidora, mas também por outro lado reconfortantes, amadurecemos, fazemos conexões que jamais faríamos em tempos passados.         
Dessa situação da mesa não consegui um resoluto final, mas compreendi que hoje sou diferente de tempos atrás e, portanto o tampo será diferente e mesmo os objetos que quero colocar á mesa. Assim, entendo que não existe repetição, embora o objeto seja o mesmo. Naquele momento contei com a ajuda do meu pai, ele é muito bom pra qualquer tipo de reforma, conhece, tem experiência, mas tem dificuldade para pensar diferente do que sempre pensou. Perceber que materiais se modificam há avanços e modernizações. Eu diria também que rigidez, é uma condição devastadora quando se pretende transformar alguma coisa. Hoje ainda não consegui terminar a mesa, parece que me falta entusiasmo, ou mesmo não sei ainda o que colocar de tampo.
Neste simples fazer me reportei ao passado, penso agora que tipo de tampo posso utilizar e ainda faço projeções futuras do que colocar sobre ela e em que lugar esta mesa poderá se acomodar. 

Neste processo de fazer, que produz reflexões e mudanças, descobrimos coisas novas sobre nós mesmos, um novo autoconhecimento que se ajustam as perdas do que éramos, fazemos uma nova adaptação e acomodação, um novo conceito de nós mesmos.
Este é um dos mecanismos utilizados para o acompanhamento da terapia ocupacional com foco na saúde mental. O terapeuta ocupacional ajuda as pessoas que por um processo de doença e ou situação de vida perderam suas capacidades funcionais ou mesmo o conceito de si próprio.
A saúde tanto física quanto mental é um atributo de todos que convivem na sociedade, seja na família no trabalho e os terapeutas ocupacionais que atuam com intervenção para a saúde mental, independentemente do diagnóstico, devem promover sensação de bem-estar, elaborar metas para atingir objetivos, pensar e agir dentro da realidade atual e contexto social das pessoas.

Finalizando e concluindo o passado nos ajuda a construir um novo presente, mas os não acertos no passado, não nos dão garantia de novos erros atuais. O importante é a transformação interna, um novo olhar diante de um mesmo objeto e situação de vida, entendendo que são parecidos, mas nunca exatamente iguais.