Sobre o tempo e o fazer foi criado na tentativa de esclarecer algumas das ações da Terapia Ocupacional na saúde mental. Em nosso cotidiano somos atravessados por diversas atividades, o tempo nos invade e somos engolidos por ele. Refletir sobre como vivenciamos nosso cotidiano, nos ajudam a encontrar pistas da nossa subjetividade, formação de um autoconceito e soluções práticas para os problemas na vida cotidiana.
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020
tempofaz.blogspot.com: Tempo de igualdades ou desigualdades.
tempofaz.blogspot.com: Tempo de igualdades ou desigualdades.: O filme ganhador do Oscar, Parasita, suscitou em mim algumas inquietações e assim através desse relato faço uma pequena Infiltração ...
Tempo de igualdades ou desigualdades.
O filme ganhador do Oscar, Parasita, suscitou
em mim algumas inquietações e assim através desse relato faço uma pequena Infiltração na família dos Kim retratada pela fita, sob o
olhar da Terapia Ocupacional.
Um contexto familiar
permeia várias problemáticas, pode ser o adoecimento de algum membro, que
modifica toda a rotina e funções de cada integrante, mas também pode ser um problema emergente e atual,
como a perda de um emprego e a dificuldade de retornar ao mundo do trabalho.
Inicio a analise com a
contraposição nas palavras infiltrar e parasitar; infiltração não significa
parasitar, posso exercer a infiltração sem ocupar uma posição parasitária.
No filme um jovem pertencente a família dos
Kim, se infiltra em outra família, Park , oferecendo aula de inglês. Ao se infiltrar na função de professor
de inglês exerceu sua habilidade de ensinar
pelo domínio que tinha pelo idioma.
Esse personagem se
destaca por demonstrar uma habilidade reconhecida por seu amigo, porém o que se
vê na dinâmica familiar dos Kim é a falta de funções cotidianas, o celular se
apresenta como objeto central, com a função de estabelecer a conexão com a
vida, com o mundo de fora e o trabalho aparece como recurso apenas de
subsistência, não encontram significado, são meros executores do fazer em
série, produzindo embalagens para pizza.
Com o passar do tempo
o foco do jovem, que ministra aulas, começa a se desviar para a necessidade de
empregar toda a sua família, faz planos com mentiras e trapaças dos membros que
já ocupavam a residência para serem demitidos de suas funções. Assim um a um, as pessoas que habitavam o
cotidiano, daquela família com funções de
motorista, governanta e um terapeuta, foram sendo demitidos
sucessivamente.
A realidade
explicitada no filme retrata a sociedade, muitas vezes cruel que vivemos, relações de trabalho
superficiais, de “passar a perna no outro”, “ puxar o tapete” para alcançar um
cargo de maior poder financeiro e status, enfim relações que presenciamos
cotidianamente nos processos de trabalho e mostram preferencialmente as convivências pouco saudáveis e conflituosas de poder e desvalia sobre o outro.
Outra realidade da
sociedade capitalista é a prioridade sobre os bens de consumo e a pouca ou
nenhuma percepção do “ser”. As pessoas se concentram em obter, bens materiais,
produtos superfulos para ocupar um lugar no mundo, e se constituir enquanto
pessoa, ou seja, sou o que possuo o que aparento. Esta forma de pertencimento na verdade produz
pessoas que desconhecem a si mesmos, não tem um autoconceito, imitam e ocupam
papéis em que não se reconhecem.
E claro que não vou
deixar de lado a problemática das injustiças sociais, todo mundo deveria ter a
condição de morar bem, com conforto, podendo usufruir dos bens de consumo
ofertados, porém o que se observa na família Kim e em muitas famílias
brasileiras é a falta de ideais próprios, mantém e ocupam uma posição de
servidão do sistema ou atribuindo seus fracassos a outros.
Querer viver à custa
de outros por pura exploração ou preguiça ou querer se igualar ou ter o que o
outro tem porque assim funciona a sociedade, contribui para o adoecimento dos
trabalhadores, causam, por exemplo, pessoas ansiosas e “vazias”. Por outro lado
em meio a tantas desigualdades sociais fica cada vez mais difícil ter a opção
de escolha de um trabalho. Entretanto não podemos nos contaminar e apenas
aceitar as dificuldades de forma passiva ou como revolta é necessário refletir
essa falta de escolha, de oportunidades e encontrar no pragmatismo formas de
criar e recriar o mundo do trabalho e as relações que os constituem. O
autoconceito se faz e se produz com aquilo que fazemos, portanto é importante
gostar do que se faz e se não gostar buscar outras habilidades e formas de
superação.
O trabalho ocupa
grande parte do nosso tempo, se não nos reconhecemos nele se não tem
significado é apenas fruto na obtenção de dinheiro, produz e cria seres
insatisfeitos que desconhecem suas habilidades e potencialidades, porque o
olhar está apenas no depois em ganhar o salário para obter algo material.
Deveríamos exercer
trabalhos onde pudéssemos estimular nossas habilidades, criatividades que
apresentasse algo da nossa historia, um trabalho que nos representasse como
pessoas.
Seria essa uma visão romântica
ou utópica de enxergar a vida? Penso que não, fui formada para acreditar na
transformação das pessoas e encontrar estratégias para auxiliar enfrentamentos
e superações diante das adversidades da vida.
Em cada cenário de
adversidades, os terapeutas ocupacionais ampliaram suas práticas para outros níveis
de atenção, como nas situações e processos de trabalho através de ações de
vigilância, atendimentos individuais e/ou em grupos de reflexão com trabalhadores
portadores de doenças ligadas ao trabalho, adaptações a novas funções,
ergonomia e na busca de alternativas para os que perderam o emprego. Pelo estudo, análise e uso de atividades
terapeutas ocupacionais compreendem a complexidade e a singularidade das
pessoas em sua relação com o mundo do trabalho. A terapia ocupacional não faz
você ocupar seu tempo, mas ajuda a encontrar o “lugar” que ocupa no mundo.
O modelo clinico da T.O. no campo da saúde mental e trabalho
entende a pessoa de forma abrangente, nos diversos contextos de vida em que
habita. O trabalho pode ser constitutivo da pessoa e da sua identidade e conta
com uma complexidade de ações e relações, portanto necessita de um olhar
diferenciado, que implica transformações de situações de trabalho.
Pense
bem o lugar que você ocupa porque o trabalho exerce influencia em todos os âmbitos
do viver e apontar para a construção de um novo modelo de intervenção na
prevenção e voltado para o confronto entre mundo externo e mundo interno pode
auxiliar na organização social e psíquica das pessoas determinando qualidade de
vida.
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