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sábado, 26 de dezembro de 2015

Tempo do destino

O que é o destino? Será que existe? É uma crença de cada pessoa? Acreditar ou não? Seria conformismo acreditar no destino? Refletir sobre o destino ecoa como um romantismo ou a crença de que existe algo superior que controla nossas vidas. Não acredito em coincidências, existem conexões de palavras, coisas, pessoas e lugares, algo cósmico que impulsiona, ou seria seu próprio instinto? A ligação de ambos, instinto e destino, quem comanda o que, um sentido só com diferentes perspectivas para quem vê? Se pensar sobre o tempo já é complicado imagina refletir sobre o destino. O destino é definido como uma sucessão de fatos e acontecimentos, geralmente inevitáveis, que nos conduzem a algum lugar. Uma sucessão de caminhos me conduziu a ler um livro; Manu a menina que sabia ouvir e na leitura me deparei com o seguinte trecho:        
“Este é o relógio do destino, cujas horas marcam fielmente: uma delas está agora se iniciando. — O que é um relógio do destino? — perguntou Manu. — Bem — explicou Mestre Hora. — No curso da existência ocorrem às vezes momentos especiais em que cada ser e cada coisa no universo, até mesmo as estrelas mais distantes, tudo coincide de maneira única e perfeita, permitindo acontecimentos que seriam impossíveis antes ou depois daquele momento. Infelizmente, a maioria das pessoas não sabe aproveitar tais instantes e assim as horas astrais passam sem serem percebidas. Mas quando alguém as reconhece, grandes coisas acontecem então no mundo. — Talvez seja preciso ter um relógio como o seu para reconhecê-las — observou Manu. Mestre Hora sacudiu a cabeça negativamente e sorriu: — O relógio por si mesmo não adiantaria a ninguém. Ê preciso saber como se lê!”
O livro todo é muito interessante, mas ao ler esse pequeno trecho percebi que tudo o que imaginava ser o destino, estava ali bem na frente dos meus olhos, naquele pequeno texto. Por essa feição poética o destino tem um toque de romantismo, parece fantasioso, mas se observarmos bem, em algum momento da vida já presenciamos algo parecido, uma sensação, ocorrência de fatos, que nos conduziram a um desfecho. Saber como se lê, como se sente e se percebe cada acontecimento em cada instante da vida, só nos é possível na tranquilidade, ouvir a voz interior. Talvez não observemos com atenção, as situações vão acontecendo e chamamos de escolhas, o que não deixa de ser, mas parece que existe uma predisposição para determinado caminho. Temos sim o livre arbítrio, mas também tudo tem uma finalidade e assim o tempo é imensurável e o destino imprevisível.



domingo, 13 de dezembro de 2015

Tempo do faz de conta

Refletindo sobre o nosso cotidiano: quantas vezes você cruzou com alguém e nem você e nem o outro sequer deram-se um bom dia? No tempo do faz de conta você finge que não me vê que eu finjo que acredito. Você finge que é forte que tudo está bem, veste uma carapuça que não é a sua, se esconde. Temos a concepção que o nosso real jeito de ser não agrada, aí tentamos fazer um faz de conta de nós mesmos. Por exemplo: não adianta você fazer de conta que é vaidoso que gosta de se arrumar, inventar um monte de histórias para convencer o outro, mesmo porque é a tua imaginação que diz ou pensa no que o outro gosta. O fato é que se convivemos no tempo do faz de conta, ninguém sabe a verdade de ninguém. No tempo do faz de conta todos se vestem de algo que não lhe é próprio.
A proximidade do natal parece intensificar o tempo do faz de conta, pessoas passam a cumprimentar, mostram-se alegres, compram vários presentes, e fazem um monte de confraternizações. As situações não mudam com a chegada do natal, portanto, se não estou alegre, não vou ficar, se não quero ou não tenho dinheiro para dar presente não vou dar, se não estou a fim de me reunir com as pessoas não tenho nenhuma obrigação de fazer. As atitudes precisam ser espontâneas verdadeiras, independente das celebrações. O natal hoje se assemelha a um consumo, festa apenas como divertimento, tudo se exterioriza, não há um movimento interior para entender ou incorporar o nascimento de Jesus, como símbolo da esperança a luz da verdade, da autenticidade, humildade, uma celebração com o propósito de humanizar o mundo.
O tempo do faz de conta, nos coloca na direção contraria da verdade, e às vezes sem perceber caímos em uma emboscada; de tanto fazer de conta já não sabemos mais o que é faz de conta e o que é fazer de verdade.
As aparições do faz de conta podem se acentuar quando as pessoas são acometidas por algum problema físico, social, emocional, porque a tendência é negar ou fingir de conta que nada aconteceu.
No processo de terapia ocupacional utilizamos um método denominado de raciocínio clínico que significa contar e construir histórias, no entrelaçamento terapêutico e na sucessão de eventos que se estabelecem na relação triádica (terapeuta, paciente, atividade). Os três termos em constante ação e reação desvendam o mundo interno através do que se produz e criam conexões, associações com o mundo externo. Este processo permite contar e construir histórias, entrelaçando situações e propondo questionamentos a fim de entender prováveis conexões entre o real e o imaginário. As sessões de terapia ocupacional permitem a pessoa vivenciar uma curta história na sua longa história de vida, porque ao entrar na vida de pessoas, os terapeutas ocupacionais oferecem uma oportunidade para que essas reconstruam sua história de vida que de certa forma será diferente de quando o problema não estava presente. Por outro lado às vezes não existe problema algum e as pessoas insistem em viver um faz de conta, e fazem do faz de conta um modo de vida.
A atitude do faz de conta é uma escolha, quando a pessoa tem consciência do que faz, o que nem sempre acontece. Viver a nossa verdade interior, exercitar a própria natureza, ser quem se é mesmo que não agrade os outros, pode  trazer alguns infortúnios, mas de que adianta fazer o outro acreditar naquilo que não se tem?
Faça de conta, mas conte de verdade sua história, porque ao contar você pode se surpreender com sua própria imaginação. Que a estrela de cada um possa brilhar não somente no natal e no tempo do faz de conta!