Refletindo
sobre o nosso cotidiano: quantas vezes você cruzou com alguém e nem você e nem
o outro sequer deram-se um bom dia? No tempo do faz de conta você finge que não
me vê que eu finjo que acredito. Você finge que é forte que tudo está bem,
veste uma carapuça que não é a sua, se esconde. Temos a concepção que o nosso
real jeito de ser não agrada, aí tentamos fazer um faz de conta de nós mesmos.
Por exemplo: não adianta você fazer de conta que é vaidoso que gosta de se
arrumar, inventar um monte de histórias para convencer o outro, mesmo porque é
a tua imaginação que diz ou pensa no que o outro gosta. O fato é que se
convivemos no tempo do faz de conta, ninguém sabe a verdade de ninguém. No
tempo do faz de conta todos se vestem de algo que não lhe é próprio.
A
proximidade do natal parece intensificar o tempo do faz de conta, pessoas
passam a cumprimentar, mostram-se alegres, compram vários presentes, e fazem um
monte de confraternizações. As situações não mudam com a chegada do natal,
portanto, se não estou alegre, não vou ficar, se não quero ou não tenho
dinheiro para dar presente não vou dar, se não estou a fim de me reunir com as
pessoas não tenho nenhuma obrigação de fazer. As atitudes precisam ser
espontâneas verdadeiras, independente das celebrações. O natal hoje se
assemelha a um consumo, festa apenas como divertimento, tudo se exterioriza,
não há um movimento interior para entender ou incorporar o nascimento de Jesus,
como símbolo da esperança a luz da verdade, da autenticidade, humildade, uma
celebração com o propósito de humanizar o mundo.
O
tempo do faz de conta, nos coloca na direção contraria da verdade, e às vezes
sem perceber caímos em uma emboscada; de tanto fazer de conta já não sabemos
mais o que é faz de conta e o que é fazer de verdade.
As
aparições do faz de conta podem se acentuar quando as pessoas são acometidas
por algum problema físico, social, emocional, porque a tendência é negar ou
fingir de conta que nada aconteceu.
No
processo de terapia ocupacional utilizamos um método denominado de raciocínio
clínico que significa contar e construir histórias, no entrelaçamento
terapêutico e na sucessão de eventos que se estabelecem na relação triádica
(terapeuta, paciente, atividade). Os três termos em constante ação e reação
desvendam o mundo interno através do que se produz e criam conexões,
associações com o mundo externo. Este processo permite contar e construir histórias,
entrelaçando situações e propondo questionamentos a fim de entender prováveis
conexões entre o real e o imaginário. As sessões de terapia ocupacional permitem
a pessoa vivenciar uma curta história na sua longa história de vida, porque ao
entrar na vida de pessoas, os terapeutas ocupacionais oferecem uma oportunidade
para que essas reconstruam sua história de vida que de certa forma será
diferente de quando o problema não estava presente. Por outro lado às vezes não
existe problema algum e as pessoas insistem em viver um faz de conta, e fazem
do faz de conta um modo de vida.
A
atitude do faz de conta é uma escolha, quando a pessoa tem consciência do que
faz, o que nem sempre acontece. Viver a nossa verdade interior, exercitar a
própria natureza, ser quem se é mesmo que não agrade os outros, pode trazer alguns infortúnios, mas de que adianta
fazer o outro acreditar naquilo que não se tem?
Faça
de conta, mas conte de verdade sua história, porque ao contar você pode se
surpreender com sua própria imaginação. Que a estrela de cada um possa brilhar
não somente no natal e no tempo do faz de conta!
Nenhum comentário:
Postar um comentário