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domingo, 6 de março de 2016

Tempo de Saúde Mental

Parece estranho dizer tempo de saúde mental porque na verdade este é um tempo que deveria ser contínuo e não específico, além do que este tipo de condição é algo subjetivo de cada pessoa.
Saliento esse tempo e coloco para reflexão, porque vejo que a saúde mental não é assunto divulgado com tanta frequência como outras questões de saúde.
Na unidade de saúde que trabalho há campanhas direcionadas a saúde da mulher, do homem da criança com meses específicos para a conscientização da população e ações práticas de prevenção e promoção de saúde. Estes eventos relacionados a saúde me levaram a questionar porque estas companhas não são direcionadas para pessoas que sofrem com algum transtorno mental? Acredito que campanhas desta natureza poderiam conscientizar a  população, diminuir preconceitos e desenvolver medidas preventivas em relação a problemática que envolve a doença mental.  
Outro fator que me lançou nesta reflexão, refere-se ao numero crescente de pessoas que estão procurando atendimento devido à alta taxa de desemprego e demissões recentes.
O ditado popular; “Cabeça vazia oficina do diabo seria uma verdade”? Ou será; “Barriga vazia não tem alegria”? “Só sei que a atual crise econômica está provocando mudanças na vida das pessoas, não porque estão doentes, ou ‘loucas”, palavra muito verbalizada quando procuram um profissional da saúde mental, principalmente psicólogos e psiquiatras. Eu costumo brincar com meus colegas de trabalho e digo: encaminha para a terapia ocupacional que ele vem para o atendimento, aí não vai pensar que está “louco”. Recursos paliativos deste tipo podem ajudar a quebrar a resistência e preconceito inicial, mas é necessário medidas eficazes para combater a superstição em relação aos transtornos mentais. Parece ser admissível adoecer de qualquer outro órgão do nosso corpo menos a cabeça. Por outro lado da mesma forma que acontece a resistência para a procura de um profissional, existe também  um uso abusivo de psicotrópicos pela população em geral, com a ideia de que remédios curam tudo, a medicalização da vida (http://medicalizacao.com.br/carta-sobre-medicalizacao-da-vida/ ).
Retornando para a questão do trabalho, exercer um ofício e uma profissão, ocupa boa parte do tempo na vida de uma pessoa e ficar sem trabalhar contribui para desequilíbrios na sua condição de saúde mental. Uma das funções do terapeuta ocupacional é ajudar a restabelecer postos para o trabalho, adaptação em outros, descobrindo junto com a pessoa suas potencialidades e auxiliando na administração de uma nova mudança ocorrida em sua vida.  
Tempos instáveis exigem flexibilidade, criatividade, manter a calma, aproveitar do infortúnio como  oportunidade de mudar o rumo, mesmo porque estudos indicam que se por um lado o trabalho é mantenedor da saúde mental, encontramos também várias pessoas que adoeceram devido ao trabalho e as condições impostas por este. 
Para aqueles que querem conhecer mais a respeito das relações de trabalho, doenças ocupacionais e as contribuições da terapia ocupacional sugiro a leitura de: LANCMAN, S.; GHIRARDI, M. I. G. Pensando novas práticas em terapia ocupacional, saúde e trabalho. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 13, n. 2, p.44-50, maio/ago. 2002.         



Bicho de sete cabeças é um filme brasileiro que aborda a questão dos abusos práticados pelos hospitais psiquiátricos: maus tratos, superlotação, excessos de medicação, exclusão familiar dentre tantos outros. O filme lançado em 2001 coincide com a criação da lei 10.216 que determina a proteção e os direitos das pessoas em sofrimento mental. Ações deste tipo contribuiram para uma nova maneira de pensar sobre as instituições psiquiátricas no Brasil, inclusive com aprovação pelo congresso nacional proibindo a construção de novos manicômios.
A união de profissionais de saúde, usuários e familiares promoveu a conscientização da sociedade e instituiu o Movimento da luta Antimanicomial. Dia 18 de maio se caracteriza como uma celebração de lutas e conquistas pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. Conscientizar e combater a idéia de que se deve isolar, direito de liberdade, de viver em sociedade, a receber cuidado e tratamento como qualquer outro cidadão.
O movimento tem como meta defender a substituição progressiva dos hospitais psiquiátricos tradicionais, por serviços abertos de tratamento, como os cenros de atenção psicosociais (CAPs ), leitos psiquiátricos em hospital geral e as Redes de Atencção Psicosocial (RAPs).
As famílias das pessoas com transtornos mentais, necessitam de orientações de como ajudar, de apoio , de como promover a autonomia, não cronificar.
Avançamos muito até aqui, porém a luta continua, não podemos retroceder. É necessário ampliar ações no terrítório, com espaços de arte, esporte, lazer que incluam essas pessoas. Outro ponto fundamental é com relação ao trabalho; defendo a criação de vagas no mercado de trabalho assim como aquelas destinadas para as pessoas com deficiência.  
A sociedade precisa evoluir e aprender com as diferenças. O preconceito e a discriminação não contribuem, apenas reproduzem o que os manicômios fizeram por muito tempo. A população em geral deve sair da condição de vítima de governos e gestão e ser pro ativa para propor mudanças. Lutar por  condições dignas de saúde para todos, por direitos, exige esforço, informação, reflexão, sair da passividade, e isto não se destina apenas na defesa das pessoas com transtorno mental, mas a saúde como um todo. 

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