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domingo, 19 de junho de 2016

Tempo do bem

O que significa bem? Segundo o dicionário a definição de bem é aquilo que é bom, agradável, que causa alegria e felicidade. Ao assistir um filme me vi navegando em pensamentos e reflexões por este sentimento do bem, da capacidade ou não de humanidade, do perdão e da simplicidade, do sentir diferente. Observo e vivencio diversas situações com meus pacientes, nesta experiência procuro através da minha formação acadêmica e dos anos vividos, auxiliar nas possibilidades das interações pessoais, nas atividades cotidianas, despertar e ou desenvolver uma habilidade que conduzam a inclusão social e a qualidade de vida, produzir saúde.
A inclusão social é algo bonito de se dizer, mas quão longe está da realidade em que vivemos. Praticar a inclusão requer aceitação, quebra de rótulos e preconceitos, e porque não dizer um sentido de humanidade. A sociedade carece de mudanças na estrutura física e na forma de concepção das pessoas diferentes. O senso comum indica a terapia ocupacional às pessoas consideradas diferentes, mas já parou pra pensar o quanto está difícil incluir-se de uma maneira geral, conseguir seu espaço e até mesmo uma aceitação de si mesmo? A condição de ser bom, praticar a benevolência relaciona-se com as características da natureza humana e não diz respeito apenas as pessoas incomuns, porque na verdade somos todos diferentes. Não entendo o bem e o bom como ser bobo e nem com a condição de herói, como utilizada por filmes, mas como algo inerente a natureza e próprios da capacidade de amar. Tenho a impressão que o mundo caminha cada vez mais na direção da falta de altruísmo.
Tempo do bem deveria ser todo dia: ” fazer o bem não importa a quem”. Para ações do bem é necessário um pouco de inocência ou mesmo não ter intenção da maldade, agir de acordo com a simplicidade e concretude do sentimento. Levar ao pé da letra aquilo que ouvimos e sentimos, sem racionalizar pode dar a impressão de besteira, mas é a forma mais pura de expressão. A manifestação simples dos sentimentos, a demonstração sem receio, não se importando com o que o outro pode pensar, não é algo característico na convivência social.
O filme “my name is khan”, fala desta simplicidade na manifestação de ações humanitárias, a discriminação e o preconceito em relação a uma pessoa com a síndrome de asperger. Curioso é que este filme não teve divulgação, talvez por ser um filme indiano e induzir várias questões aos Estados Unidos, como a perseguição aos muçulmanos, o preconceito, ausência ou atraso humanitário em virtude do estrago causado pelo furacão Katrina que atingiu Louisiana.
A Síndrome de Asperger é brilhantemente interpretada pelo personagem    denominado Khan, que demostra a falta de jeito na expressão do afeto e ou a falta da habilidade para sentir como as pessoas “normais”. A aparência desajeitada de se comportar, a interpretação muito literal da linguagem e a interação social ingênua e inapropriada, aparece de forma encantadora e extremamente sincera no personagem. O jeito espontâneo de se comportar surpreende as pessoas tanto para o bem quanto para o mal e produz laços afetivos que conduzem a sua realização na vida e aos ensinamentos primários vindos da mãe, sobre pessoas boas e más.
O filme me emocionou ao demonstrar que nada é impossível quando se tem obstinação, se existe crença, mesmo que aos olhos dos outros possa ser fantasioso e fora da realidade.
A dificuldade na expressão de afeto, característica da síndrome, não se constitui um obstáculo para que o amor e a dor possam ser percebidos de outras formas, diferentes das quais normalmente conhecemos. 
A perspectiva do sentir/fazer diferente conduz ao exercício de despertar novos conhecimentos e emoções, como por exemplo, pensar e despender parte do seu tempo para refletir sobre ações que promovam o bem.