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domingo, 25 de agosto de 2019

Tempo da Responsabilidade.


 É UMA FALTA DE RESPONSABILIDADE ESPERARMOS QUE ALGUÉM FAÇA AS COISAS POR NÓS – JOHN LENNON
Para aqueles que conseguem dar uma olhada no que escrevo, já perceberam que gosto ou procuro investigar o sentido das palavras, entender o significado e a função que exercem na nossa vida.
Os temas aparecem na minha cabeça á partir de algumas situações que vivencio, na vida profissional, social, em família, algo que me faz refletir e “piensar en mussarañas “ como se diz em espanhol, meu idioma favorito.
A responsabilidade seria algo que se tem, foi construído, pode ser um estado passageiro,  depende das situações vivenciadas?? O que é a responsabilidade?
O conceito de responsabilidade segundo o dicionário refere-se à capacidade, compromisso de cumprir com um dever ou uma obrigação. Vou defender a responsabilidade como uma ação apreendida ao longo do desenvolvimento e também adquirida a medida que exercitada e praticada frequentemente. 
Adultos podem se tornar responsáveis com o nascimento de um filho. Muitos pais procuram colocar algumas funções para suas crianças e isso é necessário; arrumar os brinquedos depois que brincou fazer a lição da escola, ajudar em alguma tarefa domestica, comprar algo, cuidar, entre outros e respeitando a idade, o amadurecimento e experiência de cada criança. As famílias que estabelecem uma  dinâmica ativa com algumas dessas ações em seus lares está mais propensa a estimular e desenvolver na criança a responsabilidade.
Na adolescência não é diferente e as responsabilidades tendem a aumentar, com o início do namoro, por exemplo, é esperado e deve existir o compromisso com o próprio corpo o estudo, papéis sociais, identificação de gênero que confundem e perturbam a cabeça dos adolescentes e dos pais. Em meio a tantos conflitos é comum escutar dos pais que os adolescentes não arrumam o quarto, só ficam no celular e os pais se queixam com razão, porque para os adolescentes é mais fácil se preocuparem com coisas que estão longe deles. Aproximar, trazer para perto acontecimentos do cotidiano, implica no compromisso com algo que é real e que dependente deles. Ter o compromisso com algo real e a seu alcance é poder acertar e errar e pode se concretizar como um bom exercício para o amadurecimento.  Quando se pratica a responsabilidade o bem comum se sobressai sobre o individual, ser  responsável também implica em ser alguém confiável. Ao assumir compromisso com algo ou alguém, lutamos, nossa energia tem foco e objetivo. Portanto assumir responsabilidade é trazer pra você, se comprometer, não está fora, está em você a ação.
Hoje em dia a responsabilidade, quando existe é “frouxa”, se exercita uma meia responsabilidade. A verdade é que todo mundo foge das obrigações e por que será? 
 Existem pessoas que não querem ser promovidas a lugares de chefia porque, dizem, «ter mais responsabilidades». Daí Agostinho da Silva dizer que de certa maneira um capitão é mais livre do que um general. O capitão ao executar as ordens do general está livre das consequências dos seus atos, já que apenas cumpriu ordens. Assim, a responsabilidade já não é sua e sim do outro. Será que o capitão é mais livre do que o general? A responsabilidade antes de ser social, é individual. Ela implica sempre uma escolha, mesmo que esta seja inconsciente. Neste ponto pode-se dizer que o general tem autonomia, porque exerce sua vontade, tem confiança e capacidade de escolha. Só o sujeito que é capaz de escolher e decidir livremente poderá ser capaz de assumir as causas e as consequências da sua ação, pois se não agir com liberdade, dificilmente irá assumir os seus atos e fugirá à responsabilidade.
Em meu artigo “A importância de atividades de lazer na terapia ocupacional” http://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/429/317 faço reflexões sobre escolhas e o quanto esta habilidade pode estar comprometida nas pessoas excluídas socialmente. Quando as pessoas estão, momento passageiro, ou são estado permanente de alguma limitação, física, mental, social,  o ato de opinar, escolher e gerenciar a própria vida é orientado por outros que as consideram incapazes para tais atos. Ao serem consideradas “incapazes” são impedidas de fazer escolhas, o que indica certo grau de limitação em sua liberdade e na condução de sua própria biografia.
Neste percurso de pensamento parece que responsabilidade tem muito da condição de ser autônomo. E você o que pensa sobre responsabilidade??
Quem se compromete a salvar a Amazônia e quem se responsabiliza pelo desmatamento, o capitão ou o general??   


domingo, 28 de abril de 2019

Tempo de Independência.


O que é independência? O que é ser dependente de algo ou alguém? Você gosta de depender? Gosta que alguém dependa de você?
Algumas dessas perguntas podem ser respondidas rapidamente, outras precisaremos parar e pensar, porque ser ou estar independente dependerá de cada pessoa, da fase e dos diversos contextos em que está inserida.
A palavra independência é um termo forte e está presente em diversos aspectos da nossa vida, tanto para situações em que dependemos de algo, ou nas relações que estabelecemos dependendo de alguém.
“Independência ou morte” disse Dom Pedro I, foi o grito proclamado para a independência do Brasil, nota-se uma expressão forte e demonstra o significado que pode apresentar dependendo da situação em que é utilizada e da forma como pode ser aplicada nos diversos contextos de vida.
O termo conceitual de independência é citado por dicionários da língua portuguesa, como a capacidade da pessoa que não necessita de ajuda de alguém para desenvolver suas atividades.
Ao longo do nosso desenvolvimento podemos ou não ser afrontados com algum tipo de “barreira”, um obstáculo, um impedimento, na maioria das vezes aparece como um desafio, ficar a prova de, no exercício de nossa independência.   
No referencial do modelo de reabilitação, independência significa ter capacidade física e cognitiva sem auxilio de outros. A independência se constitui como uma das competências sociais que necessitamos para desempenhar nossas atividades cotidianas. As atividades cotidianas e/ou ocupações são aquelas realizadas ao longo do dia (escovar dentes, comer), não apenas restritas a estas, mas também as atividades que envolvem o meio social, como escola, trabalho, família, festas, etc.
Desenvolver, estimular a independência, é um termo muito utilizado por Terapeutas Ocupacionais e profissionais que visam à reabilitação, porque pensamos em pessoas com algum tipo de limitação física, e um dos objetivos para o tratamento é a independência para atividades do dia a dia; escovar o cabelo, fazer a barba, vestir-se, parece simples mais é muito trabalhoso para quem faz e perdeu uma função.
Porém restabelecer a função de uma parte do corpo não é o único objetivo de um processo de reabilitação, às vezes esse objetivo principal dá espaço, ou surge outro, que direciona para outras situações de vida que precisam ser transformadas, o terapeuta precisa estar atento ao contexto geral da vida daquela pessoa e entender o ser humano de forma integral.
Acredito que o ensino e a formação de Terapeutas Ocupacionais adotam os princípios da compreensão do ser humano como um todo e talvez isso explique a abrangência das nossas intervenções.  
No raciocínio clínico de Terapeutas Ocupacionais, construímos formas de pensar e refletir a independência diante de vários aspectos da vida da pessoa. Às vezes o progresso para restabelecer a função de um membro e ou adaptação para uma nova condição nas rotinas diárias, está diretamente relacionado às representações e experiências de vida, no significado diante da função perdida e os papéis ocupacionais exercidos por determinada pessoa.   
A deficiência ou limitação em algum órgão, por exemplo, na visão, pode trazer algum grau de dependência do outro, mas existem vários recursos disponíveis para que a pessoa nessa condição seja mais independente possível. Refletindo sob o ponto de vista de não existir nenhuma limitação, enxergo tudo, mas frequentemente preciso dos olhos dos outros, quando me visto, quando limpo a casa, quando faço uma pintura, existe também nessa condição uma dependência do outro. Tomemos outro exemplo como o papel da mulher em nossa sociedade, desde cedo somos estimuladas a “brincar de casinha”, ter filhos, lavar panelinhas, casar, entre tantos outros. Neste raciocínio podemos entender porque muitas mulheres na fase adulta dependem da família, do marido e se sujeitam a ser dependentes, porque na maioria das vezes não encontram outro papel, função na vida, não se sentem capazes e empoderadas. O assunto sobre independência é imenso, mas o objetivo aqui é apenas provocar uma reflexão, no sentido de como a Terapia Ocupacional pode ajudar a fortalecer a mulher com ações práticas: descobrindo habilidades e interesses, “fazendo coisas” que auxiliem a conquistar maior independência.
Quero salientar com essas situações opostas que a presença de uma limitação física não é maior ou mais grave, quando o assunto e ser independente. Qual seria a pior dependência?
Por outro lado entende-se também que nunca seremos totalmente independentes, que a independência está relacionada com as diversas fases de vida e que talvez para aqueles que odeiam serem dependentes e sofrem com essa condição, uma das possibilidades seria construir formas adequadas e mais satisfatórias para a dependência, poderia dizer acomodações, adaptações evitando ou diminuindo sofrimentos.  
A independência nos conduz a uma abrangência de significados, singularidades e diversas compreensões diante dos vários contextos de vida para cada pessoa. A dependência faz parte da vida,  porém terá diferentes influências, segundo a intensidade, frequência, quanto perdura, como e quando acontece.
E para você a independência é algo sério?        
Minha sugestão para complementar o que provoquei até aqui, é o relato de Fabiana Bonilha:   http://correio.rac.com.br/mobile/materia_historico.php?id=428210l  E vejam o vídeo abaixo: