O que é independência? O que é ser dependente de algo ou alguém? Você
gosta de depender? Gosta que alguém dependa de você?
Algumas dessas perguntas podem ser respondidas rapidamente, outras
precisaremos parar e pensar, porque ser ou estar independente dependerá de cada
pessoa, da fase e dos diversos contextos em que está inserida.
A palavra independência é um termo forte e está presente em diversos
aspectos da nossa vida, tanto para situações em que dependemos de algo, ou nas
relações que estabelecemos dependendo de alguém.
“Independência ou morte” disse Dom Pedro I, foi o grito proclamado
para a independência do Brasil, nota-se uma expressão forte e demonstra o
significado que pode apresentar dependendo da situação em que é utilizada e da
forma como pode ser aplicada nos diversos contextos de vida.
O termo conceitual de independência é citado por dicionários da língua
portuguesa, como a capacidade da pessoa que não necessita de ajuda de alguém
para desenvolver suas atividades.
Ao longo do nosso desenvolvimento podemos ou não ser afrontados com
algum tipo de “barreira”, um obstáculo, um impedimento, na maioria das vezes
aparece como um desafio, ficar a prova de, no exercício de nossa
independência.
No referencial do modelo de reabilitação, independência significa ter
capacidade física e cognitiva sem auxilio de outros. A independência se
constitui como uma das competências sociais que necessitamos para desempenhar
nossas atividades cotidianas. As atividades cotidianas e/ou ocupações são aquelas
realizadas ao longo do dia (escovar dentes, comer), não apenas restritas a
estas, mas também as atividades que envolvem o meio social, como escola,
trabalho, família, festas, etc.
Desenvolver, estimular a independência, é um termo muito utilizado por
Terapeutas Ocupacionais e profissionais que visam à reabilitação, porque pensamos em pessoas com algum tipo de limitação física, e um dos objetivos para o tratamento é a independência para
atividades do dia a dia; escovar o cabelo, fazer a barba, vestir-se, parece
simples mais é muito trabalhoso para quem faz e perdeu uma função.
Porém restabelecer a função de uma parte do corpo não é o único
objetivo de um processo de reabilitação, às vezes esse objetivo principal dá
espaço, ou surge outro, que direciona para outras situações de vida que
precisam ser transformadas, o terapeuta precisa estar atento ao contexto geral
da vida daquela pessoa e entender o ser humano de forma integral.
Acredito que o ensino e a formação de Terapeutas Ocupacionais adotam os
princípios da compreensão do ser humano como um todo e talvez isso explique a
abrangência das nossas intervenções.
No raciocínio clínico de Terapeutas Ocupacionais, construímos formas
de pensar e refletir a independência diante de vários aspectos da vida da
pessoa. Às vezes o progresso para restabelecer a função de um membro e ou adaptação
para uma nova condição nas rotinas diárias, está diretamente relacionado às
representações e experiências de vida, no significado diante da função perdida e os papéis
ocupacionais exercidos por determinada pessoa.
A deficiência ou limitação em algum órgão, por exemplo, na visão, pode
trazer algum grau de dependência do outro, mas existem vários recursos disponíveis
para que a pessoa nessa condição seja mais independente possível. Refletindo
sob o ponto de vista de não existir nenhuma limitação, enxergo tudo, mas
frequentemente preciso dos olhos dos outros, quando me visto, quando limpo a
casa, quando faço uma pintura, existe também nessa condição uma dependência do
outro. Tomemos outro exemplo como o papel da mulher em nossa sociedade, desde
cedo somos estimuladas a “brincar de casinha”, ter filhos, lavar panelinhas,
casar, entre tantos outros. Neste raciocínio podemos entender porque muitas
mulheres na fase adulta dependem da família, do marido e se sujeitam a ser
dependentes, porque na maioria das vezes não encontram outro papel, função na vida,
não se sentem capazes e empoderadas. O assunto sobre independência é imenso,
mas o objetivo aqui é apenas provocar uma reflexão, no sentido de como a
Terapia Ocupacional pode ajudar a fortalecer a mulher com ações práticas:
descobrindo habilidades e interesses, “fazendo coisas” que auxiliem a
conquistar maior independência.
Quero salientar com essas situações opostas que a presença de uma
limitação física não é maior ou mais grave, quando o assunto e ser
independente. Qual seria a pior dependência?
Por outro lado entende-se também que nunca seremos totalmente
independentes, que a independência está relacionada com as diversas fases de
vida e que talvez para aqueles que odeiam serem dependentes e sofrem com essa
condição, uma das possibilidades seria construir formas adequadas e mais
satisfatórias para a dependência, poderia dizer acomodações, adaptações evitando
ou diminuindo sofrimentos.
A independência nos conduz a uma abrangência de significados,
singularidades e diversas compreensões diante dos vários contextos de vida para cada
pessoa. A dependência faz parte da vida, porém terá diferentes influências, segundo a intensidade, frequência,
quanto perdura, como e quando acontece.
E para você a independência é algo sério?
Minha sugestão para complementar o que provoquei até aqui, é o relato de Fabiana Bonilha: http://correio.rac.com.br/mobile/materia_historico.php?id=428210l
E vejam o vídeo abaixo:
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